SANGUINHO-DAS-SEBES
O sanguinho-das-sebes é um arbusto sempre-verde, típico dos bosques e matas mediterrânicas; por vezes arborescente, pode atingir 5-6 m de altura. Tem copa densa e arredondada, composta por numerosos ramos e raminhos. Como planta dióica, apresenta flores masculinas e femininas em pés separados. Os frutos são bagas redondas que ao amadurecer ficam negras. O aderno-bastardo, bem-adaptado ao clima mediterrânico, possui uma grande resistência à seca e aceita os solos pobres, inclusivamente os pedregosos. É um arbusto do qual depende a existência da bonita borboleta-cleópatra, oferecendo também alimento a inúmeros insectos e pequenos mamíferos. Pode ser confundido com o aderno (Phillyrea latifolia), diferindo deste por ter folhas alternas.
DESCRIÇÃO
Folhas simples, alternas, remotamente serrilhadas, pecioladas de 2-10 mm, de forma variável, de lanceoladas a ovadas, obovadas, ou elípticas de 10-60 × 10-35 mm, acuminadas, coriáceas e glabras. Tem nervuras aparentes, a principal, mais 1 a 5 pares de nervuras secundárias curvadas em direcção do ápice. A parte superior de limbo é lustroso e verde intenso, a parte inferior é verde-claro; a margem do limbo tem orlado translúcido.
Pequenas flores, apétalas, unissexuais pouco vistosas, agrupadas em densos cachos axilares, em número muito variável, com pedicelos curtos, de cor branca esverdeada e aromáticas. A floração vai de meados de Janeiro até finais de Abril; as flores segregam um nutritivo néctar que atrai borboletas, abelhas e outros insectos. O cálice possui 5 lóbulos reflexivos nas flores masculinas e erectos nas flores femininas.
O fruto é uma drupa carnuda obovóide de 4 a 6 mm, por vezes pubescente, inicialmente vermelho-acastanhado, torna-se anegrado quando maduro. Contém 2 a 4 sementes de cor branca. A frutificação dá-se entre Maio e Julho.
O ritidoma é liso e castanho-avermelhado nos ramos jovens, com uma ligeira pubescência, torna-se com o passar dos anos castanho-acinzentado e fissurado.
As gemas pequenas de 1-3 mm, desnudadas, mas protegidas pelas estipulas.
ECOLOGIA
Planta heliófila, que suporta a sombra intermitente. Desenvolve-se naturalmente em regiões de clima mediterrânico – seca e calor durante o estio e temperaturas amenas com chuvas abundantes de Inverno. Ocorre em bosques de folhas persistentes e marcescentes, ou orlas e clareiras de quercíneas, como o carvalho-cerquinho (Quercus faginea), o sobreiro (Quercus suber), ou ainda no cortejo de espécies que se encontram adaptadas a áreas com forte exposição solar, como o aderno-de-folhas-estreitas (Phillyrea angustifolia), a aroeira (Pistacia lentiscus), a alfarrobeira (Ceratonia siliqua), o zambujeiro (Olea europaea subsp. europaea var. sylvestris), o medronheiro (Arbutus unedo), a murta (Myrtus communis), o carrasco (Quercus coccifera); também em matagais de substituição dos bosques citados acima devido à acção do homem (cortes e incêndios). É indiferente ao tipo de substrato (pH); solos húmidos ou secos, incluído os solos delgados, pedregosos, fissuras de rochas e solos arenosos, pois possui uma boa tolerância a ventos marítimos, ou salsugem (aerossol marinho). Desenvolve-se até 1000-1300 m, tolerando temperatura de -12 ºC. Tem crescimento rápido, com longevidade que ronda os 100 anos. Resiste à poluição atmosférica.
Reproduz-se por sementes, logo que as bagas amadurecem, assim como por estaca e mergulhia.
DISTRIBUIÇÃO
O sanguinho-das-sebes é um endemismo da Região Mediterrânica. Está presente em Portugal, Espanha, França, Itália, ex-Jugoslávia, Albânia, Grécia, Ucrânia, Turquia, Síria, Líbano, Israel, Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos.
Em Portugal ocorre praticamente em todo o país, sobretudo no centro e sul do território continental, com maior frequência nas regiões do litoral.
Para além do sanguinho-das-sebes, existem mais outras duas espécies no continente. São estes o espinheiro-preto (Rhamnus lycioides subsp. oleoides) e o espinheiro-cerval, espinha-cervina, cambra ou cambroeiro (Rhamnus cathartica). Quanto ao arquipélago da Madeira, nele existe o sanguinho, ou sanguinho-da-madeira (Rhamnus glandulosa), que é um endemismo que se encontra também nas Canárias.
USO
O sanguinho-das-sebes no artesanato
As utilizações do aderno-bastardo vão da marcenaria, sobretudo embutidos, à indústria dos pigmentos naturais de cor acastanhada, que servem para tingir a lã.
utilização do sanguinho-das-sebes em reflorestação
É utilizado em programas de reflorestação e de renaturalização na região mediterrânica, sobretudo em zonas áridas e rochosas. É considerada como uma espécie robusta que suporta bem a seca e que possui grande capacidade de regeneração após os incêndios.
… como planta ornamental
O sanguinho-das-sebes pode ser usado, como planta ornamental em sebes e jardins. Este arbusto pode atingir grande porte e é adequado para grandes vasos e jardins pequenos. Aceita facilmente podas, inclusive a topiária.
COMPLEMENTAR
A borboleta-cleópatra depende do sanguinho
O sanguinho-das-sebes é a planta hospedeira da borboleta-cleópatra (Gonepteryx cleopatra), que possui uma bela cor amarela. Esta borboleta só desova nos brotos tenros dos arbustos da família Rhamnus, realizando também a fase de crisálida na mesma planta.
De modo geral é uma planta interessante para a fauna, os seus frutos são muito apreciados pelas aves como pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), o melro-comum (Turdus merula), a felosa-das-figueiras (Sylvia borin) e a toutinegra-de-cabeça-preta (Curruca melanocephala); assim como por mamíferos como a fuinha (Martes foina).
Existem duas subespécies de sanguinho-das-sebes
Flora Iberica, distingue duas subespécies de sanguinho-das-sebes: a espécie aqui tratada (Rhamnus alaternos subsp. alaternos) e a (subsp. munyozgarmendiae). Esta segunda espécie distingue-se da primeira pelo abundante indumento piloso na superfície de ambas as faces da folha, nas sépalas e nos frutos.