EVÓNIMO : ABREVIADO
O evónimo, fuseira, ou barrete-de-padre, é um arbusto que atinge 5 m de altura, podendo alcançar porte arbórea. Pouco vistoso durante a floração que é constituída por pequenas flores brancas-esverdeadas, oferece no Outono, uma paleta digna de um arlequim.
O evónimo é considerado como um dos arbustos mais raros do nosso País. Só existe espontâneamente em Trás-os-Montes.
Se nada for feito, as alterações climáticas e a acção humana levarão à extinção este arbusto em terras lusas. É uma planta de cultivo fácil que tanto os particulares, como os jardins públicos da dita zona podem plantar.
DESCRIÇÃO
Pequena árvore ou arbusto, nativo raro; de 2 a 5 m de altura, por vezes até 8 m, por 1 a 3 m de largura; glabro, aromático, de folha caduca; apresenta nos primeiros anos porte esguio e ramos pouco densos, copa arredondada e aberta depois. Caules ramificados. Ramos lisos, levemente emaranhados, compridos, finos, flexíveis, verde-mate e erectos que a frutificação torna pendentes; apresentam 4 linhas proeminentes, tornando-os quase quadrangulares; ritidoma adulto cinzento-claro a acastanhado, fissurado verticalmente.
Folhas opostas, elípticas, ou ovado-lanceoladas a lanceoladas, de 3,5-8 x 1,5-3 cm; glabras com leve pubescência na nervura inferior, finamente crenuladas; ápice agudo; 6 a 10 pares de nervuras secundárias; verde-mate escuro na página superior, mais claro na página inferior. Pecíolo curto de 2 a 6 mm, folhas subsésseis.
Inflorescências de 3 a 11 flores discretas e pouco vistosas, agrupadas em cimeiras axilares. Flores hermafroditas, regulares com 6-10 x 8-12 mm de diâmetro; pedicelo de 5-8 mm; disco nectarífero verde, sépalas livres; 4 estames, 4 pétalas livres de 2,5-3,5 x 1,5-2 mm, branco-esverdeado.
Floração de Abril-Maio a Junho. As flores muito melíferas atraem os insectos polinizadores.
O fruto é uma cápsula pendente, deiscente quando madura, lobada de 8-12 x 9-15 mm, profundamente sulcada, com 4 lóbulos obtusos e lisos; cor-de-rosa intenso, fúchsia, ou avermelhada na maturação que ocorre de Setembro a Outubro; 2 a 4 sementes obovóides, suspensas por um filamento à cápsula, brilhantes, pardo-acastanhados, cobertas por um arilo carnudo laranja intenso; estas persistem na árvore durante o Outono e parte do Inverno; acabam por ser consumidas pelas aves. As sementes são tóxicas para os humanos.
Ritidoma liso, esverdeado primeiro, depois cinzento-acastanhado e fissurado longitudinalmente, com protuberâncias suberosas. De notar que os raminhos verde-mate, primeiro obtusamente tetrágonos, ficam depois arredondados;
Gomos pequenos de 2-4 mm, ovóides e esverdeados.
ECOLOGIA
Espécie de plena luz, de semi-sombra ou sombra; comum em zonas de clima temperado, raro a inexistente sob clima mediterrânico. Aceita todo o tipo de substrato moderadamente seco, de neutro a alcalino; tem no entanto preferência por solos argilosos, drenados, frescos, férteis, profundos e ricos em matéria orgânica. Desenvolve-se em vales, encostas sombrias, margens de linhas de água, sebes, florestas abertas, em orlas ou sob coberto de bosques e clareiras. Ocorre de 0 a 700-900 m de altitude; possui grande resistência ao frio, até –25ºC.
Propaga-se por semente, por mergulhia ou alporquia, por estaca: semi-lenhificadas – rebentos do ano, ou estacas lenhificadas. Crescimento lento, ± 20 cm/ano.
Longevidade fraca, de 50 a 100 anos.
DISTRIBUIÇÃO
A área de distribuição do evónimo é a Eurásia ocidental: comum no continente europeu, do sul da Escandinávia às montanhas do norte da Península Ibérica, do Cáucaso à Sibéria Ocidental e zonas temperadas da Ásia Menor.
Em Portugal o evónimo é uma planta que ocorre apenas no nordeste de Trás-os-Montes. Arbusto muito raro que fixou na terra-fria transmontana um dos limites meridionais da sua distribuição natural.
USOS
Madeira
A madeira do barrete-de-padre, ou fuseira, é densa, amarelo claro, homogénea e de grão fino, dura, mas fácil de trabalhar, lembra a do buxo (Buxus sempervirens). Apreciada em marcenaria e óptima para talha, foi muito usada em fusos (daí o nome vulgar) e arcos de violino. O seu carvão era usado no fabrico de pólvora e como carvão de artista.
Ornamental
O seu porte arbustivo esguio e a sua copa aérea, fazem desta planta um elemento decorativo de destaque num pequeno jardim, ou em sebes. É no Outono que um arco-íris malicioso salpica com as suas cores este arbusto. A folhagem apresenta cores vermelho vivo, amarelo ou tons arroxeados. Os frutos cor-de-rosa, com quatro lóbulos abrem-se quando amadurecem e deixam ver as sementes pendentes, cobertas de arilos alaranjados; frutos que se mantêm durante grande parte do Inverno sobre os ramos esverdeados e pendentes também.
O evónimo é fácil de cultivar, sem precisar de manutenção particular, excepto manter o solo com alguma humidade. Evite plantar outras plantas perenes e bulbos por debaixo da fuseira. De facto, o evónimo está provido de uma importante rede de raízes finas na camada superior do solo, o que impede que outras plantas possam desenvolver-se em seu redor.
O fuseiro mostrou-se muito resistente aos ventos na zona costeira (covas de dunas). As folhas tornaram-se mais espessas, devido ao calor intenso; suporta a seca veranil e as inundações (bosques e prados húmidos). O barrete-de-padre é frequentemente atacado por lagartas (hyponomeutes) após desabrochamento. A quantidade de fios sedosos, produzidos pelas lagartas é espectacular, mas não põe em perigo o desenvolvimento da planta.
Uma outra qualidade do barrete-de-padre é abundância de néctar que produz. Oferece uma importante fonte de alimento para os insectos, como sirfídeos – mosca-das-flores, vários coleópteros, abelhas e formigas.
Em Portugal cultiva-se igualmente em sebes o Euonymus japonica com folhas ovais lanceoladas brilhantes e persistentes.
ADICIONAL
O evónimo contém guta-percha
O barrete-de-padre contem até 15% de guta-percha. Esta seiva é um látex semelhante à borracha. Biologicamente inerte é considerado como um excelente isolante, foi utilizado em instalações eléctricas; isolação de cabos submarinos e fios eléctricos. Embora substituído actualmente nestas funções por um equivalente sintético, a balata, continua a ser utilizado em odontologia e cirurgia.
o evónimo-de-folhas-largas, outra espécie europeia
Existe uma segunda espécie de fuseira na Europa, o evónimo-de-folhas-largas (Euonymus latifolius), folhas de 7 a 15 cm, flores com 5 pétalas. Vive entre 500 e 1800 m de altitude. Regiões montanhosas da Europa central e meridional, Ásia ocidental e Norte de África, em solos moderadamente secos a frescos, bastante calcários.
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