Quercus lusitanica – Carvalhiça

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Carvalhiça - Carvalho-anão

 

Família: FAGACEAE

Nome científico: Quercus lusitanica Lam.

Publicação: 1785

Grupo: folhosa semicaducifólia ou marcescente

Nomes vernáculos: carvalhiça, carvalho-anão, cerqueiro-bravo

 

Hábito: pequeno arbusto rastejante, marcescente, até 30 cm de altura, raramente 50 cm ou mais. Numerosos caules cinzento-esbranquiçados, rasteiros e estolhosos, formam pequenas moitas, tapeteando o solo à medida que os nós enraízam, possibilitando a emergência de novos rebentos; raminhos ou galhos delgados, curtos, glabrescentes e castanho-acinzentados; folhas elípticas a obovadas, glabras, subcoriáceas e curtamente pecioladas.

 

Folhas: marcescentes, subcoriáceas, opostas, simples, inteiras, elípticas a elíptico-abobadas, de 2-6 × 1,5-3 cm, ápice arredondado, base acunheada, margens levemente onduladas, dentadas com 4-6 pares de dentes curtos que apontam para o ápice, pouco profundos nos 2/3 terços superiores do limbo; folhas jovens tomentosas, depois verde-escuro, glabrescentes na página superior e glauca na inferior com uma nervura principal e 5 a 9 pares de nervuras secundárias bem salientes; quase sésseis com curto pecíolo tomentoso de 0,1-0,5 cm de comprimento; de notar que as folhas desta espécie possuem uma grande plasticidade polimórfica.

Flores: espécie monóica, floração de Abril a Maio. As masculinas formam longos amentilhos amarelados de 3 a 5 cm; as femininas solitárias ou agrupadas por 2 ou mais.

Frutos: como em todas as outras quercíneas, o seu fruto é um aquénio, bolota de 1-1,6 × 0,8-1,2 cm, oblonga, castanha quando madura no início do Outono do mesmo ano, inserida em 2/3 numa cúpula de 0,7-1,2 × 1,0-1,8 cm, com escamas ovado-triangulares tomentosas, quase séssil ou com pedúnculo rígido e tomentoso até 1,5 cm.

Frutifica a partir de….

Gomos: ovóides de 0,15 a 0,3 cm, primeiro pubescentes, depois  glabros com escamas cilioladas.

Ritidoma: caules cinzento-esbranquiçados lisos, tomentosos ou glabrescentes e galhos também tomentosos ou glabrescentes acastanhados.

 

Habitat: espécie calcífuga de meia-sombra ou com preferência por zonas sombrias; exige climas suaves com alguma humidade e precipitações num mínimo de 800 ml por ano; vive em substratos siliciosos, arenosos, cascalhentos ou pobres em nutrientes, sob coberto de sobreirais, pinhais ou de outras árvores e arbustos, sendo um componente de urzais.

Vegeta até cerca de 600 m, podendo suportar os -10°C.

Propagação: propaga-se por semente ou por propagação vegetativa.

Longevidade indeterminada.

 

Distribuição geográfica: espécie natural da Península Ibérica: Andaluzia, Galiza onde é rara, faixa ocidental da costa portuguesa e Marrocos.

Em Portugal: zonas Centro e Sul do País, em substratos siliciosos da faixa ocidental atlântica da Beira Litoral, da Estremadura e do Alentejo; penetra no vale do Tejo. Existência de populações nas Serras da Arrábida e de Sintra.

 

Usos: sem utilização conhecida, embora tenha sido aproveitada como a palha e outros vegetais, na preparação da cama do gado.

Devido às suas características rastejantes e à sua capacidade de criar densas manchas de mato baixo, pode ser utilizada na protecção natural dos solos contra a erosão ou como coberto destes em espaços ajardinados.

 

 grande número de sinónimos

O carvalho-anão tem um grande número de sinónimos. Alguns deles, entre os mais conhecidos, podem provocar ambiguidade, são eles : Quercus humilis Lam. 1785 e Quercus fruticosa Brot. 1805. Estes dois sinónimos aparecem em muitos estudos botânicos passados, referindo-se ao Q. lusitanica, mas nem sempre, o que ocasiona confusão. Como exemplo dessa possível ambiguidade temos o Quercus humilis Mill. 1768 que é também um sinónimo do actual Quercus pubescens Willd.1796. Este carvalho vive em quase toda a Europa, nomeadamente Espanha e França, mas não faz parte da nossa flora.

 necessidade de proteger a carvalhiça no seu meio natural

A Quercus lusitanica Lam. é um excelente representante dos carvalhos marcescentes da Península Ibérica. Observa-se que a sua presença em Portugal e na Galiza está reduzida a pequenas manchas isoladas devido a incêndios, repovoações florestais de pinheiros e de eucaliptos, de pastoreio de gado domésticos e herbívoros selvagens, despovoamento e abandono do meio rural (asfixia do matagal), retrogressão (regressão por hibridação com outras espécies afins), herborização, arranque, expansão de espécies estrangeiras invasoras (acácias). Assim, Quercus lusitanica Lam., como endemismo ibero-ocidental-africano corre o risco de extinção. Para manter a carvalhiça no meio natural, é imprescindível atribuir-lhe o estatuto de protecção e evitar o “desgaste” das poucas manchas desta espécie entre nós.
 

O PULMÃO VERDE Á BEIRA-MAR  PLANTADO, DESTRUÍDO PELO LUCRO

 

As fotografias de carvalhiça (Quercus lusitanica) aqui apresentadas (excepto aquelas contendo bolotas e flores, cedidas gentilmente pelo botânico (Paco Garín) foram tiradas no Vale Benfeito, entre os concelhos de Peniche e de Óbidos, na Região Oeste. As raras comunidades de carvalhiça, endemismo sem estatuto de protecção, presentes neste território têm vindo dramaticamente a ser reduzidas por empreendimentos voltados para o turismo internacional de alto luxo que painéis publicitários escritos unicamente em inglês! implantados na berma das estradas  da dita região, exaltam. É a história deste processo inexoravelmente destruidor que segue.

existência da carvalhiças, de sabinas e de samoucos no vale benfeito

Existia entre as terras dos concelhos de Peniche e de Óbidos ainda nos anos 60 uma mancha florestal relativamente bem preservada, que os locais nomeiam “O Vale Benfeito”; tendo a Oeste Ferrel, a Noroeste o Atlântico, a Este a Lagoa de Óbidos e a Sul Serra d’El Rei. Esta mancha verde é constituída principalmente por pinheiros-bravos, pinheiros-mansos, sabinas (Juniperus turbinata Guss.), urzes, carvalhiças e o raríssimo samouco (Myrica faya Aiton). Espaço hoje largamente invadido pelos eucaliptos da Quinta do Furadouro (ALTRI, cujos viveiros produzem cerca de 7 milhões de plântulas maioritariamente eucalipto e pertencendo a uma multinacional da pasta de papel) assim como por múltiplas espécies de acácias.

o PIN em 2005 instala ressorts, golfs e spas aos pontapés,  e arrasa a vegetação autóctone

Nas últimas décadas este “pulmão verde à beira-mar plantado”, essencialmente no território do concelho de Óbidos, tem vindo a ser sistematicamente destruído por empreendimentos de lazer de alto luxo, que pouco trazem às populações locais. Primeiro foi a “Praia d’el Rey Golf” em finais de 60, princípios de 70, que os locais chamam “os belgas”. Depois a partir de 2005, tudo acelerou com o PIN (Projecto de Interesse Nacional); este com a bênção do Estado Português; saíram do nada projectos luxuosos com pretensões ecológicas e estéticas (os maiores nomes da arquitectura nacional foram solicitados), altamente destruidores da vegetação, da fauna e da paisagem, como o mal-nomeado “Bom Sucesso Golf Course” e outros “ressorts, golfs e spas” para gente rica oriunda do mundo inteiro; a esta situação deve-se acrescentar uma urbanização local caótica e a forte pressão humana; ambas conjuntamente põem em perigo de extinção tais biótopos ricos em biodiversidade.

Financeiramente estes projectos encontram-se numa situação delicada, senão de falência. Os planos de marketing devido à crise financeira internacional de 2008 não atingiram as promessas feitas aos investidores. Essencialmente o Estado Português, bancos, famílias investidoras, aparecendo também o nome de uma figura portuguesa do futebol internacional.

Fomos despojados de um bem comum

Não se sabe bem qual o futuro destes investimentos, mas o que é certo, é que deixámo-nos despojar numa indiferença geral de um bem comum. Deixámos aniquilar para sempre largas manchas de vegetação, de solos, de biótopos, de paisagens, onde outrora era possível espraiar a vista por quilómetros sem deparar com marcas e construções humanas.

Nesta região, o Oeste, com uma forte densidade populacional (160,5 h/km², censo de 2005), podendo duplicar nos meses veranis, sobretudo nos concelhos de Óbidos e de Peniche, teria sido “inteligente” preservar semelhante área natural, permitindo às populações futuras, outra alternativa que aquela imposta institucionalmente por interesse de alguns particulares : betão, destruição do ambiente e da paisagem. Estas paisagens da costa e do Vale Benfeito merecem um outro tratamento que o da vulgaridade financeira.

Outras formas de utilizar este espaço, estas paisagens é, e será possível, sem abdicar ao prazer de usufruir deste meio natural, da beleza e da sensação de liberdade que deles ressaltam; primeiro para as populações locais e depois para aqueles que nos queiram visitar; sem destruir, sem querer imprimir a definitiva marca humana, permitindo ao resto da “vida” de continuar a partilhar connosco um espaço comum no devido respeito da nossa parte como seres Humanos e sensíveis! não será este o nosso dever?

O.M.

 

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