grande número de sinónimos
O carvalho-anão tem um grande número de sinónimos. Alguns deles, entre os mais conhecidos, podem provocar ambiguidade, são eles : Quercus humilis Lam. 1785 e Quercus fruticosa Brot. 1805. Estes dois sinónimos aparecem em muitos estudos botânicos passados, referindo-se ao Q. lusitanica, mas nem sempre, o que ocasiona confusão. Como exemplo dessa possível ambiguidade temos o Quercus humilis Mill. 1768 que é também um sinónimo do actual Quercus pubescens Willd.1796. Este carvalho vive em quase toda a Europa, nomeadamente Espanha e França, mas não faz parte da nossa flora.
necessidade de proteger a carvalhiça no seu meio natural
A Quercus lusitanica Lam. é um excelente representante dos carvalhos marcescentes da Península Ibérica. Observa-se que a sua presença em Portugal e na Galiza está reduzida a pequenas manchas isoladas devido a incêndios, repovoações florestais de pinheiros e de eucaliptos, de pastoreio de gado domésticos e herbívoros selvagens, despovoamento e abandono do meio rural (asfixia do matagal), retrogressão (regressão por hibridação com outras espécies afins), herborização, arranque, expansão de espécies estrangeiras invasoras (acácias). Assim, Quercus lusitanica Lam., como endemismo ibero-ocidental-africano corre o risco de extinção. Para manter a carvalhiça no meio natural, é imprescindível atribuir-lhe o estatuto de protecção e evitar o “desgaste” das poucas manchas desta espécie entre nós.
O PULMÃO VERDE Á BEIRA-MAR PLANTADO, DESTRUÍDO PELO LUCRO
As fotografias de carvalhiça (Quercus lusitanica) aqui apresentadas (excepto aquelas contendo bolotas e flores, cedidas gentilmente pelo botânico (Paco Garín) foram tiradas no Vale Benfeito, entre os concelhos de Peniche e de Óbidos, na Região Oeste. As raras comunidades de carvalhiça, endemismo sem estatuto de protecção, presentes neste território têm vindo dramaticamente a ser reduzidas por empreendimentos voltados para o turismo internacional de alto luxo que painéis publicitários escritos unicamente em inglês! implantados na berma das estradas da dita região, exaltam. É a história deste processo inexoravelmente destruidor que segue.
existência da carvalhiças, de sabinas e de samoucos no vale benfeito
Existia entre as terras dos concelhos de Peniche e de Óbidos ainda nos anos 60 uma mancha florestal relativamente bem preservada, que os locais nomeiam “O Vale Benfeito”; tendo a Oeste Ferrel, a Noroeste o Atlântico, a Este a Lagoa de Óbidos e a Sul Serra d’El Rei. Esta mancha verde é constituída principalmente por pinheiros-bravos, pinheiros-mansos, sabinas (Juniperus turbinata Guss.), urzes, carvalhiças e o raríssimo samouco (Myrica faya Aiton). Espaço hoje largamente invadido pelos eucaliptos da Quinta do Furadouro (ALTRI, cujos viveiros produzem cerca de 7 milhões de plântulas maioritariamente eucalipto e pertencendo a uma multinacional da pasta de papel) assim como por múltiplas espécies de acácias.
o PIN em 2005 instala ressorts, golfs e spas aos pontapés, e arrasa a vegetação autóctone
Nas últimas décadas este “pulmão verde à beira-mar plantado”, essencialmente no território do concelho de Óbidos, tem vindo a ser sistematicamente destruído por empreendimentos de lazer de alto luxo, que pouco trazem às populações locais. Primeiro foi a “Praia d’el Rey Golf” em finais de 60, princípios de 70, que os locais chamam “os belgas”. Depois a partir de 2005, tudo acelerou com o PIN (Projecto de Interesse Nacional); este com a bênção do Estado Português; saíram do nada projectos luxuosos com pretensões ecológicas e estéticas (os maiores nomes da arquitectura nacional foram solicitados), altamente destruidores da vegetação, da fauna e da paisagem, como o mal-nomeado “Bom Sucesso Golf Course” e outros “ressorts, golfs e spas” para gente rica oriunda do mundo inteiro; a esta situação deve-se acrescentar uma urbanização local caótica e a forte pressão humana; ambas conjuntamente põem em perigo de extinção tais biótopos ricos em biodiversidade.
Financeiramente estes projectos encontram-se numa situação delicada, senão de falência. Os planos de marketing devido à crise financeira internacional de 2008 não atingiram as promessas feitas aos investidores. Essencialmente o Estado Português, bancos, famílias investidoras, aparecendo também o nome de uma figura portuguesa do futebol internacional.
Fomos despojados de um bem comum
Não se sabe bem qual o futuro destes investimentos, mas o que é certo, é que deixámo-nos despojar numa indiferença geral de um bem comum. Deixámos aniquilar para sempre largas manchas de vegetação, de solos, de biótopos, de paisagens, onde outrora era possível espraiar a vista por quilómetros sem deparar com marcas e construções humanas.
Nesta região, o Oeste, com uma forte densidade populacional (160,5 h/km², censo de 2005), podendo duplicar nos meses veranis, sobretudo nos concelhos de Óbidos e de Peniche, teria sido “inteligente” preservar semelhante área natural, permitindo às populações futuras, outra alternativa que aquela imposta institucionalmente por interesse de alguns particulares : betão, destruição do ambiente e da paisagem. Estas paisagens da costa e do Vale Benfeito merecem um outro tratamento que o da vulgaridade financeira.
Outras formas de utilizar este espaço, estas paisagens é, e será possível, sem abdicar ao prazer de usufruir deste meio natural, da beleza e da sensação de liberdade que deles ressaltam; primeiro para as populações locais e depois para aqueles que nos queiram visitar; sem destruir, sem querer imprimir a definitiva marca humana, permitindo ao resto da “vida” de continuar a partilhar connosco um espaço comum no devido respeito da nossa parte como seres Humanos e sensíveis! não será este o nosso dever?
O.M.