USOS
A CAMARINHA, O PEQUENO FRUTO BRANCO
Os frutos brancos, também chamados camarinhas, são comestíveis. Possuem um sabor cítrico muito refrescante que aparentemente os humanos desde tempos imemoriais apreciam pelo prazer ou como mezinha.
Nas povoações juntas à costa chegou a haver colheita das camarinhas pelos locais, para as vender aos veraneantes. Actualmente faz-se geleia, vinagre e licor com as camarinhas, produtos que é possível encontrar nos comércios especializados. A pergunta que eu faço é a seguinte, será que existe alguma iguaria, gelado ou receita culinária tendo como base a camarinha, algures em Portugal? Talvez um cozinheiro de génio que inventasse uma receita de peixe com molho à base de camarinha, por exemplo? Se souber, partilhe connosco.
Ornamental
A camarinha, tem todos os requisitos para entrar nos nossos jardins, o porte, a cor, forma e disposição das folhas, flores masculinas bastante vistosas e sobretudos, as bagas que os pés femininos produzem, branco-pérola, translúcidas ou rosadas. No entanto, o que se constata é que fora do seu habitat, poucas camarinheiras se avistam pelos jardins ibéricos. As exigências deste arbusto que teima em não ser manipulado pela vontade dos humanos, vive somente nas suas terras, exigindo condições edafoclimáticas específicas. Razões que certamente explicam a inexistência da camarinha como arbusto de jardim, porque não a sabemos cultivar.
Mas não desanime, porque num futuro próximo, poderá usufruir de uma camarinheira repleta de frutos brancos no seu jardim. De facto, institutos e universidades, ligados à botânica, têm nestes últimos anos, levado a cabo vários estudos sobre a reprodução e domesticação da camarinheira, como arbusto frutícola. Estes estudos académicos, têm suscitado um grande interesse em organizações agrícolas e provavelmente na agricultura especulativa que antecipa a criação de um novo mercado voltado para a exportação das pequenas bagas brancas, cor invulgar nos frutos, com atributos antioxidantes.
COMPLEMENTAR
A camarinha endémica dos Açores
Existe nos Açores uma subespécie da camarinha, a Corema album subsp. azoricum ou azorica P. Silva, que se estabelece sobre rochas basálticas recentes até altitudes de 300 m. Esta Camarinha surge habitualmente em comunidade com a Erica azorica. É endémica em cinco das nove ilhas do arquipélago: São Miguel, Pico, Faial, São Jorge e Graciosa, onde é considerada prioritária para conservação, sendo uma das cem espécies ameaçadas de extinção. Clique para ver as imagens na flora-on
Propriedades terapêuticas anticancerígenas da camarinha
O extrato de camarinha poderá ter propriedades anticancerígenas, revelam os resultados de um estudo liderado por uma equipa da Unidade de Investigação e Desenvolvimento Química-Física Molecular, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Nas várias experiências realizadas em linhas celulares de cancro do cólon, observou-se que «extratos de Corema album conseguem inibir a proliferação deste tipo de células cancerígenas».
A Camarinha Encontra-se Ameaçada
A área de distribuição da camarinha tem vindo a diminuir continuamente. Entre as várias causas estão a urbanizações de recreio, as plantações florestais de pinheiros desde o século XIII e de eucaliptos no século XX, assim como as espécies exóticas de caráter invasor como as acácias que competem agressivamente com a camarinha. Como exemplo da redução do habitat da camarinheira, temos a Galiza, em que outrora a camarinha ocupou quase toda a costa e hoje, encontra-se reduzida a pequenas manchas das Ilhas Cíes e do Cabo Vilán (município de Camariñas). No caso português, desconheço se há algum levantamento das populações de camarinha, mas basta observar a utilização que é feita do espaço costeiro, construções de estruturas e de edifícios para recreio, com fins turísticos. Esta situação tem suscitado a criação de associações de protecção da camarinha, como Corema ou ANABAM, que através de acções tentam limitar o desgaste da área natural da camarinheira, promovendo junto das populações o conhecimento deste arbusto único.
Apenas Existem Duas Espécies de Corema no Mundo
A família Corema, possui apenas duas espécies, a Corema album, endémica da costa atlântica da P.I oeste e sul e a Corema conradii (Torr.) Torr. ex Loudon, que é endémica da costa leste da América do Norte. Esta espécie bastante semelhante à Corema album, distingue-se desta ultima por não ultrapassar os 60 cm de altura, de apresentar frutos bastante menores, 2 mm de largura que são primeiro avermelhados, depois acinzentados e desprovidos de parte carnuda.
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Todas as fotografias presentes nesta ficha botânica foram tiradas no concelho de Peniche, dunas do Baleal e pinhais de Ferrel, onde a camarinha abunda.
A LENDA DAS CAMARINHAS
Existe uma lenda que atribui a origem das camarinhas às lágrimas da rainha Santa Isabel. Segundo esta lenda em verso, a rainha encontrou um dia o rei e poeta sem marido, D. Dinis, grande sedutor nos braços de uma outra dama. A rainha ofendida e traída, começou a chorar, um pranto que deu “frutos”: “(…) Mas cristalizou-se o pranto/ Em muitas bagas branquinhas/ E transformou-se num manto/ De brilhantes camarinhas!…”
LÁGRIMAS DA RAINHA SANTA ISABEL
Dizem que Santa Isabel,
Rainha de Portugal,
Montando branco corcel,
Percorria o seu pinhal!
–”Ai do meu Esposo! Dizei!
Dizei-me, robles reais!
Meu Dinis! Senhor meu Rei!
Em que braços suspirais?!…
Os robles silenciosos
Do vasto Pinhal do Rei
Responderam receosos
– Não sei!…
E o pranto da Rainha
Nas suas faces rolava,
Regando a erva daninha
No pobre chão que pisava!
– “Ó meu Pinhal sonhador
Que o meu Rei semeou!
Dizei-me do meu Amor
E se por aqui passou…”
Os robles silenciosos
Do vasto Pinhal do Rei
Responderam receosos:
– Não sei!…
Mas cristalizou-se o pranto
Em muitas bagas branquinhas
E transformou-se num manto
De brilhantes camarinhas!…
Eis que repara a Rainha
Numa casa iluminada…
– “Quem vela nesta casinha
Numa hora adiantada ?!…”
Os robles silenciosos,
Tão tristes que nem eu sei,
Responderam receosos:
– O Rei!…
(Poema de autor.a anónimo.a)