DUAS ESPÉCIES, OU DUAS SUBESPÉCIES DE AZINHEIRAS!
Sem entrarmos no debate que continua na comunidade botânica acerca da existência ou não, de duas subespécies de “azinheira” (Quercus ilex subsp. ilex e Quercus ilex subsp. rotundifolia), ou de duas espécies distintas (Quercus ilex e Quercus rotundifolia). Damos alguns elementos próprios de cada uma:
– azinheira-de-folhas-de-louro
Quercus ilex subsp. ilex ou Quercus ilex – porte de 15 a 20 m, pode atingir 27 m de altura, fuste direito e pouco ramificado, folhas oblongo-elípticas, com 7 a 14 pares de nervuras secundárias e ápice mais ou menos pontiagudo. É indiferente ao pH do solo, embora os prefira calcários em zonas mais frias, tem preferência por climas temperados com seca estival curta. Não é espontânea entre nós. Encontra-se na parte oriental de Espanha, sul de França, e restante Mediterrâneo Oriental.
– azinheira
Quercus ilex subsp. rotundifolia ou Quercus rotundifolia – tem porte mais modesto, 8-15 m de altura, atingindo raramente os 20 metros, o fuste pode ser direito ou torto, folhas oblongo-lanceoladas, com 5 a 8 pares de nervuras secundárias e ápice obtuso. Indiferente ao pH do solo prefere clima mediterrânico com seca prolongada, contenta-se com precipitações anuais entre 300 a 550-600 mm. É espontânea em Portugal, Espanha e Norte de África.
De notar, que a azinheira “Quercus rotundifolia” possui bolotas quase sempre doces. Estas foram utilizadas noutros tempos, como alimento humano nas províncias do Sul. Eram misturadas com trigo e outros cereais para preparar pão em anos de escassez, sendo também assadas como as castanhas. Actualmente, devido à nova procura de produtos saudáveis e biológicos, isentos de glúten e antioxidantes, é possível encontrar esta farinha para cozinhar, preparar pão e doçaria. Nos montados, as bolotas continuam a servir de alimento para os animais e sobretudo para os porcos denominados de “montanheira”; porcos de cor preta, que produzem o excelente e único presunto «pata-negra».
O.M.
O MONTADO
«A herança de um sistema sustentável»
É um sistema criado pelo homem, com grande quantidade de herbáceas e com uma densidade de árvores relativamente baixa coexistindo com pastagens e outros usos agrícolas. Os montados são um sistema de exploração agro-silvopastoril (agricultura, produção de madeira e/ou de bolota, pastagem…) .
O Sistema do Montado Remonta à Revolução Neolítica
A origem dos Montados remonta a um passado longínquo, provavelmente à Revolução Neolítica, há cerca de 9.000 anos. O Homem terá começado a desbravar o bosque mediterrânico com queimadas. No século VI já se tinham expandido as áreas destinadas a culturas agrícolas bem como os prados, acompanhados por uma desmatação selectiva com protecção do sobreiro, naquilo que se poderia chamar os primeiros Montados. O gado criado antes da Reconquista cristã, nos séculos XII e XIII seria ovino, caprino e bovino e, posteriormente, suíno.
Segundo o relatório do Inventário Florestal Nacional, IFN6 de 2013, o sobreiro e a azinheira ocupavam em Portugal uma superfície total de 1.067.954 ha, dos quais 736.755 ha têm como espécie dominante o sobreiro e cerca de 331.179 ha, a azinheira. Nestes números encontram-se contudo incluídas, entre outras, as áreas de sobreiral e azinhal, que constituem áreas de floresta mais densa.
O Montado é uma criação humana sustentável e rico em biodiversidade
A azinheira integra o montado, constituído por diversas espécies arbóreas dominantes, como o sobreiro (Quercus suber), e em menor quantidade os carvalhos, cerquinho (Quercus faginea) e negral (Quercus pyrenaica). Estas espécies de quercíneas encontram-se em povoamentos puros ou mistos, com ocorrência de hibridação entre elas. Os montados de sobro integram também o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e o pinheiro-manso (Pinus pinea).
O azinhal raramente forma habitats naturais em Portugal. O Montado é a consequência da acção humana que permite uma grande riqueza faunística e florística. Quando bem gerido, o montado é um bom exemplo da gestão ambiental e sustentável, benéfica para uma grande quantidade de espécies, como aves, mamíferos, abelhas, cogumelos. No caso dos montados de sobreiro, acresce ainda a possibilidade de exploração da cortiça. Preserva também valores sociais, económicos e históricos das populações. Nos últimos anos tem sido valorizado por actividades turísticas relacionadas com a Natureza, como o turismo rural.
A superfície do Montado de Azinho está em queda
Os montados de azinho estão no entanto, em regressão, tendo sofrido um decréscimo acentuado na segunda metade do último século. Se nas décadas 1950-60 existiam cerca de 600 000 hectares de montado de azinho, em 2013 só restavam 331.179 ha. Com a laminação da área de distribuição desta espécie assistimos a uma baixa da biodiversidade e das paisagens tradicionais do nosso País, mas também se perde uma parte da herança de populações que descobriram há muito, uma forma de utilizar recursos naturais de forma sustentável; conceito valorizado pela necessidade de sobrevivência dos humanos no respeito da biodiversidade.
Por fim, devido à sua importância, estas árvores possuem um estatuto de espécie protegida em Portugal, sendo necessário pedir uma autorização para o seu abate.
O.M.
De acrescentar, que as azinheiras são comummente plantadas como árvores ornamentais, pois proporcionam uma agradável sombra.
Resiste à poluição urbana.