A Árvore
28 Março 2016Outubro
28 Março 2016Outono
É fim do Outono. A aragem fria
Desfolha as árvores… Parece
Que tudo faz melancolia!
O Sol que as nuvens coloria,
Pálido agora, disparece!
No solo cheio de folhagens
Ouço gemer as folhas mortas…
Sente-se o Inverno nas paisagens.
Outono, deixa estas paragens!
Tristeza, bate às nossas portas!
Os campos calam-se, dormentes.
E já não risca o poente loiro
O vôo das aves inocentes…
E o bosque, ás brisas inclementes,
Tapeta o chão de folhas d’oiro!
E era acolá, passando a ponte,
A descansar do meu caminho,
Que eu me sentava, ao pé da fonte,
Lá onde esvoaçam no horisonte
As velas rôtas dum moinho!…
Hoje, entristeço. O olhar sombrio
Vae com as nuvens pelos céus…
Se baixo o olhar, que desvario!
O bosque nú treme de frio,
O moinho triste diz-me adeus!…
É noite. Agora o azul cavado
Scintila aos poucos sobre a Terra…
Soluça o bosque desfolhado;
E, além, de rosto ensanguentado
A Lua sae por traz da serra…
Meu Deus! peior que a névoa densa,
Que o vento e a chuva é o abandono!…
Abre-se a porta á noite imensa:
O Inverno chora, o Outono pensa…
Porisso és triste—ó pobre Outono!
João Baptista Pinto Saraiva (1866-1948)
in “Líricas e Sátiras”,
Edição da “Renascença Portuguesa”, Porto 1916
(Ortografia da edição original)