O Pinhal da Azambuja

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O Pinhal da Azambuja

 

 

“Este é que é o pinhal da Azambuja?

Não pode ser.

Esta, aquela antiga selva, temida quase religiosamente como um bosque druídico! E eu que, em pequeno, nunca ouvia contar história de Pedro de Malas-Artes, que logo, em imaginação, lhe não pusesse a cena aqui perto!…

(…) digam-me, digam-me: onde estão os arvoredos fechados, os sítios medonhos desta espessura. Pois isto é possível, pois o pinhal da Azambuja é isto?…

(…) Isto não pode ser! Uns poucos de pinheiros raros e enfezados, através dos quais se estão quase vendo as vinhas e olivedos circunstantes!… É o desapontamento mais chapado e solene que nunca tive na minha vida – uma verdadeira logração, em boa e antiga frase portuguesa.

E contudo aqui é que devia ser, aqui é que é, geográfica e topográficamente falando, o bem conhecido e confrontado sítio do pinhal da Azambuja…

Passaria por aqui algum Orfeu que, pelos mágicos poderes da sua lira, levasse atrás de si as árvores deste antigo e clássico Ménalo dos salteadores lusitanos?

Eu não sou muito difícil em admitir prodígios quando não sei explicar os fenómenos por outro modo. O pinhal da Azambuja mudou-se.”

Almeida Garrett  (1799-1854)
in “Viagens na Minha Terra”, 1846