Magnólias

O luar atravez dos altos ramos,
27 Março 2016
Nas entressombras de arvoredo
27 Março 2016
O luar atravez dos altos ramos,
27 Março 2016
Nas entressombras de arvoredo
27 Março 2016

MAGNÓLIAS

   nascem vazias de amarelo
   as magnólias que se inclinam
   oblíquas a uma terra despovoada
   da dimensão da flor
   murmuram suas pétalas pelo vento
   galopante e assustado fugido dos
   desertos que eram florestas

   lentas azuis as estrelas estalam
   agapantos jacarandás
   sangue adormecido dos fenómenos
   que os olhos à luz fazem desaparecer
 
   ausentes as asas adormecem
   trilhos estilhaçados na terra
   onde o longe e a distância
   permanecem na tortura
   do pensamento
   sem etecétera
 
   Ó as searas de flores os
   gerânios as açucenas
   os corações abertos dos rapazes
   aos lilases
   perfume de entrega permanente
   musculado e frágil advento
   de um tempo que há-de partir
   mergulhado nos estames das mãos
   para se transmutar em beijos
   oferecidos às bocas
 
   no chão da terra aturada e escura
   as magnólias pálidas sombrias
   escorrem mel torturado e morno
   onde rapazes deixam o abraço
   doce permanente como o pecado
 
   o orvalho da manhã reclama as
   magnólias que fecundadas devolvem
   à terra o sangue
   dos rapazes exaustos cansados

   é manhã a terra toda de repente
   desmaia atormentada nua e quente

 

Henrique Levy,
in “Intensidades”, Europress, 2001.