Debaixo d’uma arvore
29 Março 2016Ha metaphysica bastante em não pensar em nada
29 Março 2016A Alma das Árvores
Eis-nos mortas, de rastos, pelo chão!
E fomos belas, altas e frondosas.
E demos doces frutas saborosas
Que mataram a sede e foram pão.
Em nós, cheias de enlevo e mansidão,
Fizeram ninho as aves amorosas.
Pelas sestas de Julho a arder, piedosas,
Fomos a sombra e a voz da solidão.
Fomos o berço do Homem e o seu lume;
Demos-lhe bênção, cantos e perfume;
Caixão, em nós descanso até final.
Demos a vida a quem nos tira a vida:
Mas só nos dói a ingratidão sofrida
De um mal inútil, – feito só por mal!
António Corrêa d’Oliveira (1879-1960),
in “A Alma das Árvores” , 1918 (?)