Outono
28 Março 2016As Árvores
29 Março 2016Outubro
O outono chega. O céu torna-se agora frio.
O Sol não tem calor e o bosque é mais sombrio…
Uma funda tristeza absorve a luz da tarde…
E embora o poente, ao longe, as suas tintas guarde
E no pálido azul se escôem lentamente
Nuvens de fogo e neve e rama d’oiro ardente,
A alma, que vê chegar o Outono, desfalece!…
Crenças, folhas — adeus! já tudo amarelece!…
Partes… Prouvera a Deus que nunca me olvidasses…
Ele que fez de neve e rosa as tuas faces
E pôz no teu olhar o brilho imaculado
Duma estrela tirada ao Céu todo estrelado,
Doando ao teu cabelo uma essência nocturna
De lua a dissolver as sombras duma furna,
Fez do teu peito lácteo um relicário… E, enfim,
Para esse peito — flôr! — deu-me este amor a mim..
As noites outonais têm lânguidos segredos…
Não vás!…A escuridão dos altos arvoredos,
Quando vermelha e grande a Lua se levanta,
Prateia-se, abrigando um rouxinol que canta!
Fica e deixa-me vêr com estes olhos baços
A Lua entre os choupais, e Tu entre os meus braços!…
Depois, quando a Manhã no horisonte nevoento
Com seu manto de rosa a flutuar ao vento
Despontar, apagando as estrelas do Céu,
Tu, despregando o olhar da luz febril do meu,
Purpúrea, soltar-te-ás dos meus braços letais
Como a Lua triunfal da rama dos choupais !…
João Baptista Pinto Saraiva (1866-1948)
in “Líricas e Sátiras”, Edição da “Renascença Portuguesa”, Porto 1916
(Ortografia da edição original)